Teco-tecos e Meteoros

Vamos amigo, 
A nos fazer tácita companhia, 
A ficar calados no escuro. 
Que as únicas luzes 
Sejam as cintilações do gelo fundente 
Em nossos whisky. 
Legítimo, o gelo, 
Peixes de vidro fluorescentes 
A decomporem-se em mar irrespirável. 
Falso, o whisky 
- que para o escocês nunca bastou nosso numerário -, 
Mas que, mordaça líquida-volátil, 
Serve a nos manter em silêncio 
E de adubo e formol se presta à amizade. 
Não comentemos acerca: 
Do carro berrando, rua acima, a plenos falantes, 
Do caminhão de lixo de fétido ruminar, 
Da ambulância a vociferar desgraças 
Por sobre os viadutos e sonos dos menos infelizes, 
Das matilhas de adolescentes, hienas insuportavelmente alegres, 
Dos gatos em cio a trepar por sobre os telhados 
E por sob a lua falciforme. 
(Nada comentemos, ainda que, dos gatos, inveja esmagadora abata-se sobre nós). 
Não conjeturemos do iminente dia, 
Duro de rotina, sonado, de ressaca. 
Contemplemos de línguas anestesiadas 
Os teco-tecos e os meteoros a pintar o 7 no céu. 
E se, 
Lá pelo fim da segunda ou início da terceira garrafa, 
For imprescindível algo dizer, 
For caso de legítima defesa romper o escuro, 
Conversemos, pois, sobre defuntos: 
Que é para esquecer da vida.

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