Até Quando Esperar a Plebe Ajoelhar, Esperando a Ajuda de Deus

A plebe - quero crer - despregou os joelhos do genuflexório!
Quando do início dos protestos contra o aumento das tarifas dos ônibus, confesso, posicionei-me radicalmente contra. Pareceu-me, como dos outros protestos pelo mesmo motivo, um movimento isolado, coisa de baderneiros, mesmo de vagabundos, dispostos a um quebra-quebra por diversão, por tumulto gratuito, por catarse, até, de quem gostaria de quebrar a cara do chefe, mas corre menos riscos ao atear fogo num coletivo, só gente querendo atrapalhar o tráfego, o público e o sábado.
O processo, porém, à partir desta segunda-feira, tomou outros contornos e relevos, tomou muito mais amplas proporções, proporções às quais, confesso de novo, nunca imaginei que o acomodado povo brasileiro pudesse se lançar.
Os vintes centavos do aumento das tarifas dos coletivos renderam juros altíssimos, inimagináveis, e atingiram os milhões, os bilhões desperdiçados nos preparativos da Copa 2014. E, consequentemente, começam a atingir o governo, a arranhar o verniz, a romper a blindagem do PT.
Protestos contra a realização da maior festa mundial do futebol no país do futebol? Na pátria de chuteiras? Opa, aí tem coisa nova! Aí tem coisa diferente a acontecer! Tem coisa boa, ou que pode ficar boa!
Além disso, as bandeiras das quadrilhas políticas - PSTU, PCO, MST etc -, que balançaram nos protestos dos primeiros dias, sumiram, desapareceram, escafederam-se. As lideranças do movimento rejeitaram o apoio de qualquer partido político, execraram-no, na verdade.
Aí, já me interessa. Aí, já me posiciono favoravelmente aos manifestantes, apesar do quebra-quebra; aliás, por causa dele. E explico.
Nenhum protesto é totalmente pacífico, nenhum pode ser, nenhum que seja efetivo, ao menos. Nenhum governo se sensibiliza e se põe a repensar as políticas públicas por conta de marchas ordeiras compostas por milhares caminhando e cantando e seguindo a canção. O que "sensibiliza" a canalhada política é sentir que está com o cu na reta. Diálogo é muito bom e saudável, mas não rompe com estrutura nenhuma; no máximo, um acordo de cavalheiros, o famoso conchavo, é o que se consegue com o diálogo.
E dialogar, há séculos que se dialoga neste país. Até quando esperar? Um bom quebra-quebra é muito salutar, às vezes. Mas há de se saber de suas possíveis consequências, e arcar com elas sem dar uma de bebê chorão.
Parece-me - e aqui estou a me permitir um pouco de otimismo - que está a ruir o mito do brasileiro submisso, que a tudo aceita, do brasileiro engolidor de sapo, do bravateiro de boteco, do socialista/comunista que quer fazer a revolução com seu copo de whisky à mão.
Porém, junto ao mito do brasileiro acomodado, dever ruir outro mito de nosso folclore : o do protesto pacífico, o de que uma mudança significativa, uma revolução, possa se dar sem baixas.
Sair às ruas com a ilusão de que um protesto deste porte possa transcorrer pacificamente, que possa ser  um mero passeio, é temerário. É uma ilusão que gera outra ilusão, ainda mais perigosa : a de que a reação ao protesto pacífico, por parte de quem o recebe, por parte de seu alvo, também será sempre pacífica.
Não será! Nunca!
Mudar um estado estabelecido de coisas nunca será um processo tranquilo e indolor, não é uma brincadeira. O estado estabelecido das coisas, o status quo, é muito bem guardado e defendido pelo Estado do poder oficial, pelo Estado Público.
No Brasil, não há a res publica, a coisa pública. Há a coisa do Poder Público.
Querer tomar do Poder Público o que deveria ser público e achar que vai sair ileso, sem nenhum arranhão, é ingenuidade, é a ilusão da mudança pacifica. É a ilusão de uma  nova ordem sem um caos que a anteceda.
É querer tirar um belo osso da boca de um pit bull só na conversa, só no gogó. Não tem jeito. Há de se dar uma bela de uma porrada na cabeça do pit bull para que ele comece a pensar em largar do osso. Mas esteja preparado para uma possível - e provável - mordida, para uma abocanhada capaz de lhe decepar a mão. O pit bull não responderá à sua porrada com o rabinho balançando nem lambendo sua mão.
Claro que se deve ir aos protestos com postura e intenção das mais pacíficas possíveis, mas sempre alerta e preparado para se defender, caso o pacífico não se mantenha, não possa ser mantido.
Carregue soro antirrábico, soro antiofídico e vinagre, o famoso vinagre, para minimizar os efeitos do gás lacrimogênio. O sujeito que levou vinagre para a manifestação estava plenamente ciente do que estava a fazer, e do que podia enfrentar e sofrer - como de fato sofreu.
Não dá para o sujeito crer no pacífico, não dá para sair em protesto e, depois, reclamar da violência policial, não dá pra ficar indignado com isso. Não dá pra dar uma de bebê chorão.
Achar que vai derrubar o Sistema com o consentimento, os aplausos, a simpatia, o beneplácito do mesmo, nem é mais ingenuidade, já é a irmã xifópaga dela, a burrice. O Sistema vai sempre reagir violentamente à sua derrubada. A força sempre será a resposta a qualquer tentativa significativa de ruptura ao Sistema.
Quem sai à chuva é para se queimar, já bem o disse, e cunhou para a eternidade, o filósofo da pedra britada Vicente Matheus.
Os diáologos, óbvio, devem continuar, mas é sempre conveniente ter uma ou outra minoria desordeira na manga (supondo que sejam mesmo minorias), as "minorias" desordeiras são feito tropas de choque da maioria pacífica. As "minorias" desordeiras fazem o necessário trabalho sujo que a maioria pacífica tem pudores em realizar. Lançar mão das "minorias" desordeiras, é o diálogo feito com o trabuco à mostra em cima da mesa, para manter bem abertos os ouvidos do interlocutor ao que é falado.
Há de se saber, também, que não há garantia de nada nesse tipo de manifestação popular. Não há garantia de nenhuma mudança; e havendo-a, não há a garantia de que será para melhor.
Mas até quando esperar?
De qualquer forma, não tenho dúvidas, algo novo está a ocorrer por nossas ruas, uma nova tentativa, uma nova forma de tentar. Uma nova forma para triunfar, ou para fracassar. Um grito mais alto, uma nova forma de ser melhor ouvido, ou mais brutalmente calado. 
Mas até quando esperar? O concreto rachou!!!
Tá na hora do pau!!!
Boa sorte, meninos, boa sorte!
(E cuidado. Conservem seu medo, mas sempre ficando sem medo de nada)

Em tempo : li à tarde que a Fifa, caso a situação não seja controlada, já tem um plano B para que o término da esquecida Copa das Confederações se dê em outro país,  mesmo a realização da Copa 2014 no Brasil está periclitante. Li também que as manifestações poderão afetar a Jornada da Juventude, um evento de âmbito mundial da Igreja Católica, que contará, inclusive, com a presença do filho da puta do Papa. 
As manifestações sabotando a festa máxima do futebol e da juventude católica, duas das coisas que mais desprezo nesse mundo desprezível. É muita emoção para o velho Azarão. Obrigado, meninos, obrigado.

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3 Comentários

  1. Mais uma vez a marretada disse tudo o que eu queria dizer. Até tentei chegar perto disso com um desabado, mas longe de atingir a precisão cirúrgica deste texto. parabéns mais uma vez...
    Em tempo, meu texto está aqui...
    http://www.operfido.blogspot.com.br/2013/06/o-inevitavel-confronto.html

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  2. Posso? Vigiar seu carro? Te pedir trocados? Engraxar seus sapatos? Parabéns mais uma vez Marreta pelo texto!!

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