Sacaneemus Papam

O brasileiro odeia o argentino. Talvez por o argentino jogar bola melhor que ele, talvez por fazer churrasco melhor que ele, com certeza por fazer vinhos melhor que ele e ser mais instruído que ele. E o argentino também odeia o brasileiro, pela implacabilidade da Terceira Lei de Newton.
Na verdade, acho que se amam. Feito velhos amigos que morrem de vontade de se atracar num forte abraço quando se encontram, mas, machos latinos que são, demonstram seu afeto através de brincadeiras, palavrões e sacanagens mútuas. 
Mas deixemos estabelecido o que já está : brasileiro odeia argentino, e vice-versa. Um adora sacanear o outro.
Até se for o Papa. Até o Santo Padre. Até o representante terreno do Todo-Poderoso.
O Papa é o Papa. Respeito e reverência absolutos e subservientes lhe são devidos por todos os católicos. Mas para o brasileiro, por mais católico e temente a deus que ele possa ser, o Papa é, antes de tudo, um argentino. Deus é deus, argentinos à parte!
E o Papa é argentino dos legítimos, dos insuportáveis, torce para um time de futebol, come churrasco, toma mate, e é um sujeito dos mais cultos que possa haver. Com todos esses predicativos, não teria mesmo como o Papa Francisco I escapar de uma sacanagenzinha por parte dos brasileiros.
O Papa virá ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, a acontecer em julho na cidade do Rio de Janeiro. É esperada a participação de 3 milhões de jovens católicos, ou seja, três milhões de jovens que passarão os cinco dias da Jornada a cantar, a louvar e a adorar um deus inexistente. E a se ajoelharem, claro. Que é disso que o deus cristão gosta, de joelhos dobrados e esfolados e de cabeças baixas. O que mostra que, se o jovem for mesmo o futuro do país, nós estamos fudidos.
Durante a Jornada, o Papa será tratado com toda a pompa e circunstância que sua posição lhe garante, vai ter sua mão beijada até não poder mais, vai ficar com hérnia no saco, voltará a Roma com o saco rendido.
Mas, salamaleques à parte, o Papa não sairá do Brasil sem levar chumbo grosso. O Papa será alvo de uma verdadeira "pegadinha", muito pior que as do Faustão, que as do Silvio Santos, pior ainda que as do João Cléber.
No encerramento da Jornada, quando o Papa, já cansado, doido para se recolher ao conforto do Vaticano, pensar que a presepada, finalmente, está prestes a acabar, será submetido a uma tortura digna da Inquisição Espanhola, a um suplício à altura dos infligidos por aqueles aparelhos medievais de tortura, aos quais a Igreja Católica tanto era afeita.
O Papa será exposto a um show oferecido pelos padres cantores!!! Pãããããta que o pariu!!! Nem o Papa merece. Nem um argentino merece. E seis deles, de uma vez só!!! Seis padres cantores.
Pe. Marcelo Rossi, o milionário do terço bizantino; Pe.Fábio de Melo, o padre-galã-bombadão-amigo-do-chalita; e mais outros quatro de que nunca ouvi falar, Reginaldo Manzotti, Omar, Juarez e Gleuson. E terá até uma freira cantora, Kelly Patrícia. Pois é, Kelly Patrícia, isso lá é nome de freira? Nome de freira é Anunciação, Sebastiana, Maria, Tereza, Emengarda, Justina. Kelly Patrícia está mais para alguma periguete do funk.
E já está tudo armado. O canto dos padres não se perderá ao léu, não se esvaiará ao fim da Jornada. O arcebispo do Rio, Dom Orani, pedirá ao Papa a autorização para que a missa final, quando deverão estar reunidos 1,5 milhão de pessoas em Guaratiba, se torne um DVD. O sinal da transmissão será aberto, mas a organização da Jornada contratou uma empresa para fazer toda a parte de captação. Depois, sendo aceita a proposta de dom Orani, o lançamento do DVD será negociado com as gravadoras. E mais ouro nos cofres do Vaticano, mais faz-me-rir nas caixinhas das igrejas.
Sei, desde tenra idade, quando fui ensinado por meu tio Sérgio, que todo Papa é um filho da puta, mas seis padres cantores e mais uma periguete de Cristo? Chego quase a ter pena do Papa.
Nunca pensei que diria isso um dia : que seu deus lhe proteja, Papa, os seus tímpanos e a sua sanidade.

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