Pedagogia Do Afeto No Cu Dos Outros É Refresco

Gabriel Chalita é  advogado, professor, filósofo de araque, escritor de autoajuda (autoajuda mesmo, para ele) com mais de 30 livros publicados, entre os quais o "Pedagogia do Amor" (seu best seller) e uma imprescindível biografia da cantora Vanusa, e também é o queridinho do movimento carismático da igreja católica, é ligado ao pessoal da Canção Nova, aos padres cantores, amigo íntimo do galã bombadão Pe. Fábio de Melo.
Gabriel Chalita, entre 2002 e 2006, foi o Secretário da Educação de São Paulo, e assumiu a pasta com uma importantíssima missão, que não foi a de melhorar efetivamente a qualidade do ensino público, nunca é, mas a de melhorar a imagem de mau patrão do Estado, agravada sobremaneira pela Secretária que veio a substituir, Rose Neubauer, um dos exemplos mais bem-acabados de antipatia que já ocupou uma secretaria pública - eu gostava dela.
E isso, admito, Chalita fez muito bem feito. Chalita virou o guru da Pedagogia do Afeto, virou o xodó da professorada, principalmente das primárias, as famosas P1, ficou mais célebre que o próprio Ministro da Educação, tornou-se um popstar pedagógico.
Aumento salarial, é verdade, Chalita não lhes deu, mas sempre lhes tratou gentil e cordialmente, como quem trata a avozinha em visita dominical. Para o professor, muitas vezes basta isso, ser um pouco adulado, ser falsamente elogiado, receber um abraço e tapinha nas costas, se emocionar com um belo discurso que enalteça sua importância como educador etc etc.
Chalita, jovenzinho quando assumiu a pasta, trinta e poucos anos, é até hoje um cara de boa aparência, de fala e gestos delicados, com cultura acima da média ( o que a se considerar a média pode não significar grande coisa, mas enfim...), bem vestido e sorridente, falava olhando nos olhos da professorada, supria as carências emocionais delas com belas e vazias palavras. Em resumo : Chalita consegue congregar inúmeras das qualidades que eu mais desprezo no ser humano.
Chalita se tornou o genro que a professorada pediu pra deus, na impossibilidade etária delas próprias darem para ele. Já o vi em ação, a entreter e encantar um anfiteatro lotado pela classe professoral. Chalita falava, declamava poesias, tocava violão, cantava músicas de Pe. Zezinho... Punha a mulherada louca, feito um competente animador de auditório, um Silvio Santos do magistério.
Ao fim de suas apresentações, era cercado pelas professoras (e também por alguns professores da arruela frouxa), assediado veementemente, elas o abraçavam, beijavam, passavam a mão, mostravam as fotos dos netos, queriam um pedaço do Chalita, queriam comê-lo como Caetano a Leonardo di Caprio.
E não estou exagerando, não, as apresentações de Chalita eram um verdadeiro frenesi, talvez esteja até me esquecendo de alguns detalhes, daqueles que nossa memória e o bondoso tempo, em prol de nossa sanidade, fazem por bem olvidar.
Era um verdadeiro festival da progesterona. Que menopausa, que nada. Que reposição hormonal porra nenhuma. O negócio era uma palestra do Chalita. As docentes saíam coradas, afogueadas, ovulando. Uma coisa triste de se ver. Tristemente, eu vi.
Chalita deixou a pasta da Educação em 2006, sem melhorar em nada a qualidade do ensino público, mas, objetivo principal que lhe foi encomendado, melhorou em muito a imagem da Secretaria da Educação perante o professor.
Chalita saiu da Educação para alçar voos políticos maiores, feito um Ícaro moderno atraído pelos holofotes do poder, sóis frios e enganadores de nossos paraísos artificiais. Hoje é deputado federal e a principal aposta do PMDB para o governo de São Paulo nas eleições de 2014; nas últimas semanas, seu nome foi cotado para assumir um dos ministérios do governo Dilma.
Rumo a voos estratosféricos, o sujeito, muitas vezes, vai deixando para trás as pessoas que o auxiliaram em sua decolagem, feito um foguete a desacoplar os estágios de sua estrutura de que não mais precisa. Acontece que, volta e meia, um desses pesos mortos, um desses excessos de bagagem, retornam para, feito almas penadas, puxar o pé de que os abandonou e lhes tentar impedir a ascensão aos céus.
É o caso do analista de sistemas Roberto Leandro Grobman, que acusa Gabriel Chalita de ter sido "patrocinado" pelo grupo COC de Educação durante toda sua gestão. Grobman teria sido o homem designado pessoalmente por Chaim Zaher, presidente do grupo COC até 2010, para se aproximar de Chalita e sondar negócios para o grupo.
Com a venda do sistema COC de educação para o grupo britânico Pearson, em 2010, parece que Grobman foi excluído das mamatas e negociatas de que participava. Como todo canalha traído, resolveu botar a boca no trombone. Diz que decidiu procurar o Ministério Público porque sentiu-se "abandonado" por Chalita e pelo COC.
As denúncias de Grobman deram base à abertura de 11 inquéritos contra Chalita pelo Ministério Público Estadual, em que pesam as seguintes acusações : suspeita de corrupção, enriquecimento ilícito e superfaturamente de contratos públicos.
Só na categoria mimos pessoais, digamos assim, estão : O COC teria pago as despesas do Secretário com a locação de aviões e helicópteros, viagens, presentes, uma reforma no valor de R$ 600 mil feita no apartamento de Chalita localizado no bairro de Higienópolis, e comprado computadores para a emissora de televisão Canção Nova, grupo católico a que Chalita é agregado, olha a padraiada filha da puta, aí.
Mas tem mais : uma empresa ligada ao COC, a Interactive, vendeu R$ 2,5 milhões em software educacional para a Secretaria da Educação durante a gestão Chalita, e Grobman era sócio da Interactive; o COC comprou 34 mil exemplares de um dos livros de Chalita, o já citado "Pedagogia do Amor", para serem distribuídos entre os funcionários do grupo; depois da saída de Chalita do governo, as suas relações com o COC continuaram firmes, ele assinou um contrato para fazer palestras para o grupo, R$ 30 mil reais por palestra.
Grobman, que se tornou uma espécie de assessor informal de Chalita, tendo, inclusive, acompanhado o secretário em viagens a Paris, Madrid e Nova York, revelou ainda que com Chalita a coisa era na base do "golden number" (número dourado), que era o nome dado pelo secretário aos 25% de propina que cobrava em cima de cada contrato fechado com fornecedores da secretaria.
Quem sai aos seus, realmente, não degenera. Como bom filósofo, a ética e a moral são apenas suas ferramentas conceituais de trabalho, Chalita as mantêm restritas às suas salas de aula e ambientes de palestra; como bom cristão, segue à risca o conselho de Cristo, crescei e multiplicai, apenas multiplicai, ou alguém já ouviu, em algum dia, Cristo dizer, crescei e dividi?
Chalita, claro, nega todas as acusações, diz ser vítima da briga de dossiês entre partidos que sempre antecede a um período eleitoral, e que estão, simples e gratuitamente, querendo manchar a imagem de alguém, ele, que sempre trabalhou pelo país e se pautou pela ética. Olha a ética, aí. Se o cara começar a falar muito em ética, podem ter certeza, ele é um filósofo e um cristão. Corram dele, pelos dois motivos.
É por essas e por outras que o ensino público está na merda em que está, e não por culpa única e exclusiva do professor, como querem os órgãos responsáveis. Alguém acha mesmo que Chalita, ou qualquer outro, ao que tudo indica, bancado por uma escola particular, iria arregaçar as mangas em prol da melhoria do ensino público? Claro que não. Patrocinado por escolas particulares, antes pelo contrário, deve ter feito de tudo ao seu alcance para sucatear ainda mais a já depauperada educação pública. Para que os pais, minimamente preocupados com a qualidade da escola de seus filhos e com uns trocados sobrando no orçamento, fujam da escola pública e matriculem seus rebentos na rede particular, os supostos patrocinadores de Chalita.
E o problema maior é que não é só o Chalita. Vasculhem em escalões públicos mais altos, no próprio MEC, e, provavelmente, muitos outros "patrocínios" de redes privadas de educação serão encontrados, provenientes, sobretudo, das faculdades continuamente reprovadas no ENADE e que, ainda assim, "inexplicavelmente", mantêm seus cursos em funcionamento.
Serão as denúncias de Grobman, o sol inclemente que derreterá a cera das asas de paetês e poás do afetuoso Chalita? Não, claro que não. Elas irão, isso sim, incrementar ainda mais o currículo político de Chalita, serão a MBA do pedagogo do amor. Que, no Brasil, denúncias de corrupção só tornam o sujeito mais atrativo aos partidos políticos e, desgraçadamente, também ao voto popular.

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2 Comentários

  1. Há um equívoco nessas afirmações que fez: “como bom cristão, segue à risca o conselho de Cristo, crescei e multiplicai, apenas multiplicai, ou alguém já ouviu, em algum dia, Cristo dizer, crescei e dividi?” É no Gênesis que há referência ao “crescei”. Jesus disse o contrário (Mateus 19:21): “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me”.
    Eu até simpatizo com os carismáticos, pela fé imensa que têm. O que pega é aquela maluquice de “falar em línguas diferentes”. O pessoal começa a enrolar a língua e acha que todos creem que estão falando línguas diferentes. Se fosse tão simples, eu começaria a latir e poderia dizer que estou me comunicando com a cachorrada (se, pelo menos, atingisse as "cachorras"...). Queria ver é esse pessoal falar em swahili ou mandarim!
    Mas escapuli do assunto original. Quanto ao Chalitinha, o simples fato de pertencer ao PMDB é sinal de comportamento duvidoso (“dize-me com quem andas, etc.”). O Millor disse em uma entrevista que “Ninguém que ambiciona o poder deixa de ser um filho da puta! Pode ser um pouco mais ou um pouco menos. Mas o homem de bem, no sentido genérico e universal da palavra ‘bem’, não ambiciona o poder.”
    Então, é triste constatar que isso é verdade. O que devemos fazer é votar, votar, votar, para tentar sempre eleger o menos pior. O Chalita, o resto do PMDB e todos os do PT certamente, não estão entre os menos piores.
    Curioso é que em Minas tem outro caso de carismático com pretensões políticas. Chama-se Eros Biondini e, em um autêntico exemplo de “sincretismo” religioso, foi candidato em 2012 a vice-prefeito na chapa encabeçada por Leonardo Quintão, que é evangélico, filho de pastor enrolado – e do PMDB.
    Outra coisa: caso não conheça, sugiro a leitura de uma entrevista dada pelo Millor à Playboy, muito boa. O link está aí.
    http://golpecontinuo.blogspot.com.br/2012/03/seu-milton-um-genio.html

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