Sovina São as Putas Que os Pariram

A minha sovinice é lendária entre meus amigos. Como todas as lendas, minha sovinice tem um fundo, mal-interpretado, de verdade. Que é isso o que as lendas são : explicações simplórias, tacanhas e equivocadas dadas por olhos inábeis em bem observar, por mentes ineptas em inferir e por línguas de exímias maledicências a um fato estranho, ou raro, pouco usual.
Procuro, é verdade, sempre comprar da marca mais barata, seja de que artigo for; mas isso não faz de mim um sovina. O que não sou é um perdulário, um esbanjador, um otário que sai por aí jogando seu dinheiro fora.
Eu compro o produto, não o conceito criado para envolvê-lo e vendê-lo. O produto em si, que é tão-somente a matéria-prima transformada, é barato, o que onera em muito o preço final é o conceito concebido para promovê-lo, a ideia comercial e publicitária que o embala. Há, ainda, um outro valor somado ao produto, o da ideia que faz o comprador sobre a ideia que aqueles que o virem usando e adotando tal ideia, tal conceito, farão dele. Sim, há embutido até o valor da ideia que farão de nós as pessoas que nos virem consumido esse ou aquele produto.
Isso é mais óbvio e ululante nos produtos da chamada "linha ecológica". O boçal paga caríssimo, por exemplo, por uma sacola de compras de mercado de juta crua e rústica urdida por tecelãs do vale do Jequitinhonha só para que aqueles que o virem a desfilar com ela pelo mercado, o olhem com admiração e pensem : lá vai um cara preocupado com o planeta, com o meio ambiente e com as questões sociais.
A sacola é uma merda, não vale um cruzeiro velho, mas traz entranhada em suas toscas fibras o verniz da consciência ambiental e social. E comprar uma consciência, como quem compra um modelo novo de roupa, ou de carro, pronto e fabricado em série, ao invés de, a duras penas e queimares de mufa, erigir e sedimentar a própria, é caro.
Não sou sovina por comprar da marca mais barata, só não sou um idiota iluso de que um determinado produto possa me tornar uma pessoa diferente e melhor. Compro função, não embalagem, slogans, designs ou status. Quisesse comprar status, compraria logo um título de conde, barão, ou duque.
Aliás, comprei Status uma única vez. Quando Status era uma revista de mulher pelada, publicada entre meados da década de 70 e fins da de 80. Comprei a edição antológica da Sandra Bréa; até hoje um dos dinheiros mais bem aplicados da minha vida, um relação custo-benefício insuperável, usufrui-a à exaustão, literalmente.
Como disse, compro produto, compro função. A exemplo, a cerveja, o sacrossanto suco de cevadis, como dizia Mussum. Qual a função da cerveja? Me deixar bêbado. Se a Glacial, a R$ 1,19 a lata de 350 ml, em promoção de fim de semana num mercado perto de casa, me deixa tão bêbado quanto uma cerveja mexicana de nome e rótulo com motivos astecas, à venda no mesmo mercado por R$ 11,99 a long neck de 350 ml, por que comprar a mexicana, se as duas cumprem a mesma função?
Pelo conceito artístico pré-colombiano impresso em seu rótulo? Pelos elementos da cultura asteca a que seu nome faz referência? Montezuma que se foda! Quetzalcóatl que vá a puta que o pariu! Só quero ficar bêbado. E ponto. Se quiser saber da história asteca, vou atrás de um livro.
Todo esse palavrório para, enfim, chegar ao motivo, à inspiração dessa postagem : ele, o fósforo, o palito de fósforo. Um dos produtos mais subaproveitados em seu vasto e pleno potencial funcional. 
O palito de fósforo não é somente um excelente e prático substituto de dois gravetos sendo atritados, ou de duas pedras de sílex sendo batidas uma contra a outra, não é somente um suspiro de Prometeu encapsulado numa cabeça de enxofre, carvão e salitre.
O palito de fósforo pode também tomar o lugar, com máxima eficiência e mínimo custo, de um dos produtos mais ineficazes e caros destinado à higienização de banheiros, os sprays desodorizantes de ambiente, conhecidos genérica e popularmente como Bom Ar. No mesmo mercado já citado, os preços variam de R$ 10,49 a R$ 27,60 por uma lata desses sprays. Todos com odores campestres, bucólicos e pastoris. Flores do Campo, Jasmim, Alfazema... Tudo muito bonitinho, floridinho e caro; porém, não cumprem com sua função, não se prestam a merda nenhuma, literalmente.
O cara caga e depois asperge o Bom Ar. Aquilo não elimina o cheiro da bosta. Só se mistura a ele em estranha sinergia. Não some o cheiro da bosta. Só fica parecendo que alguém cagou atrás de uma touceira de margaridas, ou embaixo de um pé de jasmim, ou ao lado da penteadeira da vovó.
Não existe rival à altura para ele : nada tira mais o cheiro de bosta de um ambiente que um palito de fósforo.
Se nunca experimentou essa função alternativa do palito de fósforo, se nunca tocou esse seu lado B, experimente. Acenda um palito de fósforo depois de soltar um barro, de arriar bonito, de riscar a porcelana. Deixe-o queimar um tanto e o sacuda no ar para apagar a chama e espalhar sua branca fumaça. O cheiro da bosta some instantaneamente, como que por mágica.
E quanto custa uma caixa de palitos de fósforo com 40 unidades? Não chega a cinquenta centavos de real. Um custo de cerca de um centavo por "borrifada" desse tradicional Bom Ar. Função, meus caros. Eu compro função. 
A eficiência do palito de fósforo se deve à liberação de dióxido de enxofre durante a queima, gás que dopa e sobrecarrega nossos sensores nasais e reduzem momentaneamente a capacidade de detectar outros odores. Além disso, a fumaça branca contém enxofre coloidal, que forma uma espécie de cola, de areia movediça no ar com alta capacidade de absorver odores. Não bastasse, a chama ainda dá conta de eliminar certos gases fedorentos e inflamáveis da merda, como o metano.
Função, seus porras, função. Sovina são as putas que os pariram. Eu só me atenho às minhas reais necessidades.
Mas agora é madrugada, passada a hora de ir dormir. Vou colocar a cerveja da última Glacial no meu poderoso canecão e acomodar-me com ele à privada para uma retumbante cagada, garantindo, assim, uma noite de sono tranquilo à minha esposa. Finda a bela obra, riscarei um fósforo, tomado de uma caixinha estrategicamente colocada ao canto da pia e ao alcance da mão, pra não ter que levantar com o cu sujo.
Mas que marca de fósforo você recomenda, ó sábio economista doméstico Azarão?, poderão perguntar alguns. Fiat Lux, Paraná, Guarany, Argos, Queluz? 
Ora, porra! A que estiver mais barata, é claro.
Penso, depois de aposentado, sabe-se lá quando, para complementar minha renda, em lançar uma marca de palitos de fósforos que mire esse nicho mercadológico dos desodorizantes de banheiro. O slogan até já me veio : Não queime seu filme, queime um Fósforo Azarão.
"Ou, compre um Bom Ar, e vá queimar a rosca!" - acatando a sugestão de meu ex-pupilo, Gianndre Roberto, que há muito superou o farsante mestre.

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6 Comentários

  1. "Não queime seu filme, queime um Fósforo Azarão. Ou, compre um Bom Ar, e vá queimar a rosca!"

    Sobre esse papo de função, como é difícil fazer alguns sujeitos entenderem isso. Até mesmo em assuntos acadêmicos, pessoal só se preocupa com topografia, vai entender.

    Ah.. e parabéns pelos oito anos do Marreta, o blog só melhora cada vez que beira a decadência (é o que o homem mais tem de elevado, assumir a decadência).

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    1. Gostei da coisa da decadência, bastante.
      Vou adicionar a opção do Bom Ar à postagem.

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  2. Cara, você é muito miserável.
    Tomar glacial e riscar fósforo para eliminar o odor da merda é o cúmulo da sovinice. Toma cachaça então, e abre a janela do banheiro, assim você economiza um palito de fósforo, seu miserável.
    "JC"

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    1. JC... vá tomar no seu cu!!! E sem vaselina nem KY, que é pra economizar!

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  3. Já pensou em se inscrever no concurso do homem mais muquirana do Brasil?
    Você deve se espelhar naquele programa dos muquiranas que passa na tv paga

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