Escorbuto

Cadê teu chegar, teu sorriso : 
Meu salvo-conduto ? 
Ficou teu partir, teu largar, 
Meu domingo de luto.

Cadê teu cheiro, meu roteiro: 
Do viver, meu estatuto ? 
Ficou teu lembrar, teu lugar, 
Meu uivo que mal já escuto.

Por andam a minha vontade, 
Vaidade, maldade, 
Esperança, querer de vingança, o equilibrar no fio da gilete, 
Enfim, essas cordas que fazem mover a marionete?

Foste a tesoura, a desgrenhada cimitarra loura, 
O estilete, o deboche, 
A decepar, desfibrar meus fios, 
A deixar-me inerte fantoche.

Cadê teu falar, teus fonemas : 
Harmonia do meu ritmo dissoluto ? 
Ficou teu deixar, teu desvanecer : 
Meu purgatório absoluto.

Cadê teu arfar, teu devanear : 
Meu gozo devoluto? 
Ficou teu fugir, meu fenecer, 
Meu coração em escorbuto .

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3 Comentários

  1. Se não me engano, essa não é inédita...

    É das antigas?

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    1. É inédita no blog, uma vez que nunca a publicara, mas sim, é das antigas.
      Imagina se hoje eu escrevo bem assim; às vezes nem gosto de vasculhar escritos antigos.

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