XV de Agosto

Despertemo-nos! 
E aos outros, também!
Despertemo-nos!
E a todos os de nossa ninhada!
É instante de recontar a história,
De alavancar nossos mortos do túmulo, portanto.
Arranquemo-nos de nossas clausuras,
Coloquemo-nos em ruínas,
E também aos nossos telhados,
Para que a tempestade convença à consciência
Os ainda reticentes em seus sonos :
Nem um único ouvido surdo deve sobrar.
A história, é necessário, seja redita, reouvida
E os mortos, incomodados,
Espezinhados em seus repousos de órbitas despalpebradas.
A história,
A bem da sanidade,
Seja esquecida, depois;
E os mortos, vital, reocupem-se, ao término, de suas putrefações;
Só depois, porém.
De todos, assim, toda a atenção!
E, de cada qual, uns poucos cobres para a cerveja
- nosso veneno espumante -,
Para a cerveja, uns poucos cobres devem chegar,
Que é comum do homem os seus venenos custarem pouco,
Quem já viu, entretanto, uma cura a preço módico?
Sem lástimas : é do homem, é do homem!
Tomemos, pois, gelado, o nosso veneno
Que, atenuante, é de mais agrado ao paladar.
Às crianças, mantê-las de ouvidos despertos,
Qualquer beberagem de cafeína e noz de cola,
Aos mortos, nada
Que de nada precisam, os mortos.
Acomodemo-nos em nossas cadeiras
(e há assentos para todos, com o nome de cada um em seus espaldares, a exemplo das lápides)
Para mais uma coletânea de atrocidades,
De pecados a ser justificados.
Para impulsionar a roda de mais um ciclo de sofrimentos:
Purguemo-nos em mais um XV de Agosto.

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