XV de Agosto (II)

Hoje
O dia veio com sintomas de extinção em massa.
O vento correu
Seco, afiado e castanho
Roubando a umidade
Dos olhos
Das narinas
Das vulvas.
Motosserrando o verde
E os ipês amarelos,
Soterrando os vivos
Do pó dos que dele vieram
E que a ele já retornaram
(engana-se quem pensa se tratar de queimada de cana-de-açúcar),
Abastardando o azul do céu.
As nuvens coraram-se de açafrão
De gás mostarda
Para sufocar o sol
Para asfixiar a luz
Para criar ocre mortalha
Sépia sepulcro.
Mas o cio resiste
O verde, fotossíntese
O sol ainda arrota dinamite.
A vida,
Capenga,
Maratonista aleijado
Que manca sobre próteses que lhe causam escaras nos cotocos dos membros amputados,
Insiste em nos cuspir à cara seu degradante espetáculo
E nos sorri,
Canalha, filha da puta,
Vencedora vencida, 
De seu pódio sem concorrentes,
Sem outras bandeiras
Nem hinos de outras nações. 
(e um pterodáctilo, aproveitando-se da minha distração, do meu porre, achega-se de mansinho e faz seu ninho no velho boldo de minha sacada)

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