E Não Mais Tornarei a Falar de Ti (Ou : Um Réquiem para Christopher Reeve)

Correu. 
Mais rápido que o mais rápido valha, 
Corisco, arisco : uma bala. 
Correu, mas nunca do risco, 
Nunca da batalha. 
E estamos, hoje, um pouco mais medrosos 
Sem você a lutar por aí.  

Saltou. 
Alto, alturas sem esforço nem sacrifícios. 
Saltou impunidades, injustiças, 
Himalaias e precipícios. 
Num único salto, as solas vermelhas de suas botas 
Passando por King Kongs em seus edifícios. 
E andamos, hoje, de cabeças bem mais baixas 
Para não constatarmos o seu não-mais-saltar por aí.  

Voou. 
Não como um pássaro; que pássaro que nada. 
Voou como só gente pode voar. 
De punhos cerrados, dentes trincados, 
Com urgência : 
Voou sem nunca o voo aproveitar. 
E estamos, hoje, de asas e sonhos podados 
Respiramos com mais cuidado sem você a voar por aí.  

Sangrou. 
Sangrou raramente, é fato. 
Mas agora que o fez 
O fez pra valer, o fez sem recato. 
E que hemoglobina que nada! 
Sangrou todas as lágrimas de um povo, 
Sangrou em definitivo, sangrou de verdade. 
Colhido em foice de lâmina verde, 
Sangrou no clarão manso de um luar de jade. 
(Seu túmulo : uma cicatriz na face agora menos risonha do planeta) 
E o mundo tornou-se, hoje, ainda menos seguro 
Sem você a sangrar por nós, por aí.

Postar um comentário

0 Comentários