Grandes Feitos, Grandes Inutilidades (Ou : Quando as Estrelas Começarem a Cair, Me Diz, Me Diz, Pra Onde é Que a Gente Vai Fugir?)

Ah, a Ciência! Tão pretensamente sábia e tão patentemente tola. Faz grandes descobertas e, por isso, toma-se também por grande. Ah, a Ciência! E sua ignorância enciclopédica, ilustrada e terminológica. Faz grandes descobertas que mostram o quão diminuta é, e nem se apercebe disso.
Ontem, dois grandes feitos foram anunciados na área da astronomia. Ao meu ver, ao menos do ponto de visto prático, um feito anula o outro, um é o anticlímax do outro. O primeiro é uma loira peitudíssima que nos concede uma boa espanhola e nos deixa em riste; o segundo é aquele filho da puta que nos chega por trás, sem avisar, e nos atola o dedo no cu. Pronto. Já era.
O primeiro. Astrônomos brasileiros, em parceria com o Observatório Europeu Sul, o ESO, instalado no Chile, descobriram um exoplaneta - um planeta fora de nosso sistema solar - com massa semelhante à de Júpiter e que orbita uma estrela que tem características similares às do nosso Sol. Vai daí que pode ser um forte  indício de um sistema solar muito parecido ao nosso, e, logo, com relativas chances de abrigar também um planeta sósia da Terra, a tão buscada e almejada Terra 2, talvez a futura morada da espécie humana, ou de uma parte de nós. A busca pela Terra 2 é o santo graal da astronomia. E não é à toa.
A Expansão Marítima, acontecida durante os séculos XV, XVI e XVII, época em que, inclusive, fomos descobertos, levou o ser humano aos últimos confins do planeta, aos seus limites territoriais, e ele os vêm esgotando e exaurando desde então. Em breve, se não já urgente, uma nova expansão será necessária, sob o risco de, se não havê-la, a espécie humana ser extinta. E quem diz isso nem sou eu. É, entre outros bam bam bans da área, Sthepens Hawking. Querem mais?
Porém, não marítima, a nova expansão, o novo alastramento da praga; que não há mais mares nunca dantes navegados. Espacial, intergaláctica, cósmica, deverão ser as novas franquias da espécie humana. Naves e cruzadores espaciais deverão ser as novas caravelas. Capitães Kirks, os novos Colombos e Cabrais.
Claro que aqui, racionalizando para além do instinto de sobrevivência, cabe a questão : habitar novos planetas para quê? Para saqueá-los e extirpá-los de suas entranhas como já fizemos com o nosso? Viraremos o quê? Nuvens de gafanhotos interplanetários a assolar lavouras alheias? Fiéis discípulos feitos à imagem e semelhança de Galactus?
Voltando meramente à questão da sobrevivência, a melhor notícia sobre o novo planeta : ele fica apenas a 57 anos-luz do nosso. Distância ridiculamente pequena em termos astronômicos, praticamente um bairro contíguo, separado por uma avenida, por um rio ou linha férrea. Segurem por ora essas informações e vamos ao segundo grande feito.
Segundo. A sonda New Horizons, da Nasa, óbvio, chegou muito perto da superfície de Plutão e colheu informações nunca sequer suspeitadas a respeito do ex-planeta, agora planeta-anão. A viagem durou nove anos e meio e percorreu a distância de 5 bilhões de quilômetros, a maior já coberta por um construto humano. Decretar feriado mundial da Humanidade? Explodir salvas de tiros? Shows pirotécnicos em homenagem ao próprio umbigo? Porra nenhuma.
Percebem o anticlímax? Percebem a ciência descobrindo fatos cada vez maiores e se mostrando cada vez mais ínfima e insignificante frente a eles?
Façamos - eu já as fiz - algumas simples operações aritméticas, uma série simples de regras de três.
Um ano-luz  é a distância que a luz percorre no período de um ano terrestre, de 365 dias. A luz, a Speedy González do universo, desloca-se a 300.000 km/s, o que faz com que, ao longo de um de nossos anos, ela percorra aproximadamente 9,5 trilhões de quilômetros - isso é um ano-luz.
Dividindo a distância percorrida pela New Horizon até Plutão, 5 bilhões de quilômetros, pelo valor de um ano-luz, chegaremos ao resultado de que a nova queridinha da Nasa, em nove anos e meio, andou tão somente 0,00053 anos-luz. Efetuando outra regra de três, podemos constatar que essa mesma sonda, a manter a velocidade atual, levaria aproximadamente 18 mil anos para percorrer um único ano-luz.
A possível, porém, pouco provável, Terra 2, inferida a partir da descoberta dos astrônomos brasileiros, está a 57 anos-luz de nós. Percebem agora?
Mesmo que fosse confirmada a existência cabal de uma Terra 2 - exatamente igual à nossa, com água, gás oxigênio, novos e virgens territórios a ser colonizados, novos índios amistosos fascinados por nossos espelhinhos, novos portos seguros -, ela de nada nos valeria. Mais de um milhão de anos seriam gastos entre a partida e a chegada de nossas novas caravelas; isso, se não pegássemos alguma calmaria pelo caminho, ou alguma tormenta de asteroides.
Ah, a Ciência! Fascinante, sim; assim como a espécie humana, em certos aspectos. Ah, a Ciência! Inútil e frustrante, também; assim como a espécie humana, em todos os seus aspectos.

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2 Comentários

  1. Excelente, meu amigo. Ainda ontem eu estava pensando nas tais fotos que a sonda tirou de Plutão e de Caronte, depois de viajar quase uma década, foram transmitidas em 4h. E eu aqui lutando pra baixar vídeos da minha internet... Ah! A ciência.
    "J"

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  2. Pô, Marreta, você cortou o meu barato! E eu achando que 57 anos-luz era mixaria... Pelo menos, fiquei feliz ao ver as fotos de Plutão. Afinal, se já é difícil pra cacete ver enterro de anão, imagine então ver fotos de planeta anão!

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