Sommelier de Buceta

Adquiro rapidamente um profundo nojo por certas palavras ou expressões que viram modismo, sempre usadas de forma errada, ou por ignorância em relação à língua mátria, ou por má-fé mesmo, ou, aposto, por ambas, com uns 80% de predominância do primeiro motivo.
Com essas palavras ou expressões, querem fazer parecer que certos produtos sejam superiores aos seus demais similares, até mesmo que tenham qualidades e atributos inerentes e exclusivos.
Alimento orgânico é um dos mais abjetos exemplos disto. Tomate orgânico, arroz, morango, trigo, batata, melão, a lista é quase tão interminável quanto são os tipos de alimentos. Anunciam que tal coisa é orgância como se falassem da ambrosia dos deuses.
Ora porra, todo alimento é orgânico!!! Todo alimento provém, direta ou indiretamente, de um ser vivo, todos têm ou origem animal, ou vegetal, ou ainda são produtos de bactérias e fungos. Portanto, são formados pelo onipresente átomo de carbono e suas diversas faces, carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e ácidos nucleicos. Tudo orgânico, sem exceção.
Ou alguém já comeu um tomate inorgânico? Feito de pedra, de areia, com sílica em lugar do carbono?
Quando dizem "orgânico", querem dizer que aquele alimento foi cultivado sem aditivos químicos, agrotóxicos ou fertilizantes. Querem dizer que ele foi cultivado à base de adubo natural. Ou seja, ao invés de dizerem alimento orgânico (uma vez que todos o são), deveriam dizer : alimento adubado com bosta! Que a bosta é, por excelência, um dos compostos mais orgânicos que há.
De uns tempos para cá, outro modismo vem enchendo o meu saco e os bolsos dos que dele se utilizam para cobrar de seus produtos muito mais do que eles valem e enganarem os trouxas. É o tal do produto artesanal.
É queijo artesanal, móveis artesanais, perfumes artesanais, roupas artesanais, molhos artesanais, chocolates artesanais etc. Você passa e vê uma puta duma fábrica com a placa : doces e geleias artesanais. Quanto mais explícita a patifaria, menos o povo vê.
E, agora, o tal do artesanal invadiu um dos últimos territórios do verdadeiro macho, um dos últimos rincões livres da frescura e da viadagem, o mundo das cervejas.
Até no mercado aqui perto de casa, a coisa já ganhou volume. E é mercado mesmo, popular, não é delicatessen, rotisserie, nenhuma dessas boiolagens. Tem lá uma gôndola, bem no meio do corredor, com um cartaz, cervejas artesanais.
Eu passo longe, tanto pela propaganda enganosa quanto pelos abusivos preços. Tenho um escorpião de estimação que carrego sempre ao bolso, o escorpião Margá, o pobrezinho infartaria ao ver o preço de uma dessas.
Aí, um dia desses, em meu local de trabalho, no intervalo, peguei a conversa de dois novos professores, desses que aparecem e desaparecem todos os anos das escolas, desses da nova leva de aprendizes. Eles debatiam sobre a qualidade das cervejas Colorado e Baden Baden, um defendia uma e outro defendia a outra.
Para mim, Bavaria Premium, Brahma Extra e Kaiser Bock são o máximo de requinte a que um sujeito pode se permitir sem pôr em risco as pregas. 
Portanto, nada de útil eu aproveitaria da conversa sofisticada dos dois rapazes (ou moçoilas, mais me pareceram), a não ser reforçar ainda mais o meu desprezo pela estirpe dos seres humanos "sensíveis e refinados", que assim se autointitulam e se consideram o próximo degrau evolutivo da humanidade, quando, na verdade, a humanidade ruirá justamente por isso, pela delicadeza adquirida.
Fiquei ouvindo, nunca é demais reforçar nossos preconceitos.
O rapaz da Baden Baden dizia que a sua preferida obtivera mais estrelas numa prova cega de sommeliers belgas.
Eu já ia me esquecendo, agora tem isso de sommelier, os provadores, os degustadores, aqueles caras que põem a bebida na boca, fazem biquinho, bochecham, gargarejam e cospem. Tem sommelier de vinho, de whisky, de pinga, de café, de cerveja e até, vi um dia desses, de água mineral.
Não obstante o maior número de estrelas da Baden Baden, a Colorado, argumentou o outro rapaz, apresenta maior teor de cevada e lúpulo, e é obtida em um processo de baixa fermentação mais complexo, no qual são controlados até o número de bolhas.
Corto o meu saco se a rapazola tiver a mínima noção do que seja um processo de fermentação, o sensível lê o rótulo ou alguma resenha sobre o produto e sai a citar o que decorou.
O outro não se deu por vencido, disse que não são apenas os sommeliers belgas de cerveja que aplaudem a Baden Baden, os maiores cozinheiros do mundo, os gourmets dos principais restaurantes, consideram a Baden Baden como a cerveja com maior potencial de harmonização com pratos dos mais diversos. Gourmet é a puta que o pariu, e harmonia perfeita é o meu pau enterrado num jilozinho.
Achei que o simpatizante da Colorado estava para capitular, mas, estrategista que se revelou, tirou sua mais poderosa arma da manga e disse, como quem desfere um touché, um xeque-mate : a Colorado é confeccionada com cevada, malte e lúpulo orgânicos. E o preço mais alto nem deve ser discutido, concorda? Afinal, cerveja artesanal é para degustar, não é para beber.
O da Baden Baden foi a nocaute.
Na mesma hora, imaginei : um sommelier a degustar um cerveja artesanal feita de cevada orgânica. Pãããta que o pariu!!! Nada pode ser mais viado que isso! Perto disso, até dar o cu fica parecendo coisa de macho!
Cerveja não é para beber? Realmente, não. É para entornar, para emborcar, para encharcar, empapuçar!!! Para se botar pela urina, pela transpiração e pelas ventas!!!
Fiquei imaginando esses rapazolas afetados dando de cara com um bom bucetão. E nem digo de um bucetão legítimo, das antigas, cabeludão e babento, que a verdadeira buceta lhes faria torcer o nariz a ponto da bicanca quase lhes fugir do rosto, faria-lhes os estômagos saírem pela boca. 
Aceito, para não me dizerem intransigente com os rapazolas, esses simulacros de bucetas que andam por aí, raspadinhas e perfumadas por sabonetes íntimos. Imagino o da Baden Baden se aproximando da buceta e aspirando-lhe os odores, sentindo o bouquet; em seguida, o da Colorado passaria muito delicada e rapidamente a língua pelos entrelábios, buscando decifrar notas mais ou menos acres, buscando lhe adivinhar a safra.
E quando a dona da buceta lhes perguntasse : e aí, não vão comer, não?, eles responderiam em uníssono : buceta é para degustar, não para comer!
Sommelier de buceta, é só o que está faltando. Se é que está, se é que já não tem. Talvez para escolher elenco de filme pornô.
O que acho é que esse pessoal adepto do correto e do limpinho gosta mesmo é de um bom fumo de rolo preto, artesanal e muito do orgânico.

Postar um comentário

16 Comentários

  1. Meu prezado Azarão, como sempre uma boa marretada!
    Outro dia em conversa fiada com meu irmão comentei isso. Um mercado aqui perto que vende cerveja pra viado.
    Interessante que agora com essa nova "onda", na fila do caixa, tem sempre alguém olhando meio de lado pra mim, pois sempre carrego comigo uma boa vodca barata, daquelas que carregam no nome mais consoantes que cifras.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, há muito tempo que eu não tomo um bom destilado, mas havia na época uma vodca que era muito boa e barata, a Natasha, fabricada pela Bacardi, a mesma do famoso rum.
      Não sei se ela continua boa nem barata, mas se você encontrar dela, compensa dar uma experimentada.

      Excluir
    2. Ainda existe, Azarão. As vezes compro uma, e ainda continua boa e barata.

      Excluir
  2. Azarão. Já o fiz, mas gostaria de pedir sua permissão para compartilhar seus textos no meu perfil do facebook. Por vezes acho necessário alguns dos meus contatos lerem seus textos. Deixo claro que apenas coloco o link para serem direcionados para cá. Grato!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, pode compartilhar à vontade os textos que você julgar interessantes, nem precisava perguntar. É uma honra.
      Abraço.

      Excluir
  3. É como diz Espinosa: "Não gostamos de algo porque é bom, mas algo é bom porque gostamos".

    ResponderExcluir
  4. kkkkkkkkkkkk Muita inspiração! Morri de rir! Engraçado que tenho ouvido muito essa palavra "Sommelier" e também tenho me irritado muito com ela.
    Sommelier de buceta, não sei, não. Só se for das cantoras de MPB da atualidade. Mas, Sommelier de porra tem aos montes por aí....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, de porra é o que mais tem!
      E um viva às sapatas da MPB, Simone, Ângela Rô Rô, Gal Costa, Maria Bethânia, Zélia Duncan, Adriana Calcanhoto etc, todas elas talentosíssimas, e sabem muito bem o que é bom!!!
      E um viva também a Raul Seixas, que homenageou a todas elas com o seu O Rock das Aranhas!!!

      Excluir
  5. caro azarão,
    você não passa de um pobretão perdedor. Não compra ALE não porque não queira mas porque não pode. Deve ser realmente frustante ser você e entrar numa fila de mercado e ver lá uma rochefort 10 custando 30 pilas a garrafa de 330 mL e não comprá-la. Pelo que li do seu textinho você deve ser professor,não é mesmo? A categoria de caras ferrados e sem um tostão no bolso. Tá aí sua explicação para não poder comprar ALE ou Lambics que podem chegar a custar 150 uma garrafa.

    E além disto, você menciona que estas cervejas são de viado porque faz parte de conspiração gay para afeminar homens. Saiba você, incubado, que sua cervejinha(!) de todo dia é que foi feita a partir de levedo desenvolvido em laboratório na CARLBERG, o fermento das ambevianas e afins não existe na natureza. Já as ales foram as primeiras cervejas a existirem de modo NATURAL pois o fermento delas é o mesmo do pão. E agora você bebe cervejinha de merda ( porque é um pobretão) e descobriu que ela é que é coisinha de bicha de laboratório, seu ignorante classe média ferrado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Huuummmm, a menina ficou louca, possessa, possuída (por uma benga de 23 cm), ou melhor, não ficou possuída por uma benga de 23 cm e por isso está possessa, soltando fogo pelo toba, sempre ardente.
      E não sou eu quem estou a justificar a minha "pobreza" (será que você também tem acesso à minha conta bancária?), é você quem está a (tentar) justificar a sua viadagem, com essa história de natural, de artesanal, coisa de viado mesmo.
      Sim, eu sou professor. E você? Deve ser publicitário, arquiteto,decorador, jornalista, psicólogo, terapeuta, filósofo, formado em ciências sociais ou qualquer outra merda de "humanas", não é? Ou seja, viadão! Entubador de brachola!
      Fica degustando sua cervejinha como quem lambe a porra de um pau bem grande, nervudo, suado, fedido.... Já tá ficando excitada, né?

      Excluir
  6. Marreta, nem perca seu tempo e a linha com esse esnobe agazalhador de brachola, que não passa de um "Sabe Nada" pois se soubesse alguma coisa saberia que a Carlsberg tem a verve do humor e da modéstia até no rótulo e se um dia fosse à terra dos fódstrons saberia que por lá professor alem de beber Tuborg é respeitado e bem pago.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, você encasquetou mesmo comigo, hein? E não falei que você é um grande dum entubador? Veja só a cerveja de sua preferência : (en)Tuborg. Pããããta que o pariu!!!!
      Acho que você tá querendo é degustar meu pau. Desinfeta, cara.

      Excluir
  7. Não podia deixar de tecer um elogio a esse texto, foi o primeiro que li no seu blog. Assumo q tenho um certo chamego por crônicas, embora não possua qlqr autoridade sobre o assunto, reconheço qnd vejo um talento para estas. Como sempre um prazer literário. ;)
    PS: Gosto de incomodar vc com meus comentários. Vc deve achar q eu n tenho mais o q fazer... Rsrs Falei sobre o meu vício chato (pra vc tr ideia estou lendo agora "manual de arte naval"). Só rindo mesmo.
    "J"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não incomoda de jeito nenhum. As pessoas também podem pensar que sou um desocupado, mas o fato é que trabalho e ainda sou dono de casa, faço faxina, comida, compras etc. O blog é um passatempo para mim e um dos grandes atrativos de se ter um blog são os comentários.
      apareça sempre

      Excluir
  8. marreta, tu é homofóbico ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. rapaz, de forma alguma. Leu o aviso aos navegantes na barra lateral do blog? Nada aqui é sério, tudo é farsa, tudo é masturbação mental.
      E como pode sequer imaginar que eu seja homofóbico? E o tanto de lesbiquinhas que eu ponho para ilustrar o blog?
      abraços, cara e, repito, não leve muito a sério tudo o que lê por aqui.

      Excluir