Um Partido Militar Não é Sinônimo de Ditadura Militar, Muito Pelo Contrário

Bastou que o ainda em formação Partido Militar Brasileiro (PMB) comunicasse sua intenção de convidar Joaquim Barbosa a representá-lo nas próximas eleições presidenciais para que os alarmistas de plantão abrissem o berreiro : retrocesso, volta da ditadura etc.
(aliás, uma volta nem sempre é um retrocesso, pode ser uma retomada de certos valores, um resgate, mas não é disso que quero falar, não agora, não ainda)
Para o alarmista, tudo é motivo de...alarme. O alarmista é, antes de tudo, um desinformado, ou um mal-intencionado, ou ambas as coisas.
Por que a formação de um partido militar seria o prenúncio de uma ditadura de mesma natureza? A mim, parece justamente o contrário. A formação de um partido militar sinaliza a vontade do grupo em participar ativamente do processo democrático, e não de derrubá-lo; de exercer o direito que também têm a uma representatividade política, e não de suprimir o dos outros grupos já representados.
Desde quando formar um partido político traz oculto o objetivo de um golpe de Estado? Se for assim, temos mais de 30 potenciais golpistas escondidos sob as siglas de suas legendas partidárias.
Se os militares querem fundar um partido - e repito, têm esse direito -, que obedeçará a todos os trâmites legais em sua formação e que, depois, acatará a lei eleitoral do país e toda a Constituição, é porque, óbvio, não querem dar um golpe.
Se quisessem dar um golpe, simplesmente dariam, têm poder bélico e estratégico para isso, e até o apoio de parte significativa da população. Se quisessem dar um golpe, dariam, não fundariam um partido.
Tem que ser muito burro para se sair com essa história de um novo golpe militar por parte do PMB, ou mal-intencionado, ou as duas coisas. Típico do falso democrata, do esquerdista que quer a "democracia" só para os que pensam igual a ele, exclusiva aos seus.
Por que ex-guerrilheiros, que mataram, assaltaram bancos e sequestraram, podem fundar seus partidos de forma insuspeita, e os militares não? Por que evangélicos fanáticos, fundamentalistas, que desejam acabar com a laicidade do Estado e transformar o país numa teocracia, num arremedo do Islã, podem formar suas bancadas no senado e na câmara dos deputados e os militares não?
Mas vamos por partes, como diria Jack, o estripador.
Primeiro.  O PMB ainda não foi oficializado como um partido político pelo TSE. Para tal é necessário angariar 485 mil assinaturas com abrangência nacional, não podem ser de apenas um estado ou região; e é o que eles vêm fazendo através de eventos e reuniões, 300 mil assinaturas foram obtidas até agora. Tudo dentro da lei eleitoral, tudo nos conformes. Cadê a sombra de um golpe? Por acaso, alguém tem notícia de tanques a sitiar o TSE e a coagir um registro ilegal do PMB? Então!
Segundo. SE o PMB conseguir o registro e o convite for feito a Joaquim Barbosa, caberá a este aceitar ou não a candidatura. Alguém já ouviu Barbosa se pronunciar sobre o assunto, manifestar ou não simpatia pelo convite que ainda não foi feito, pelo partido que ainda não existe? Quem sabe se Barbosa deseja ser presidente do país, ou mesmo aliar sua imagem à dos militares? Ou será que os alarmistas pensam que os militares irão capturar Joaquim Barbosa e, sob tortura, forçá-lo a aderir à causa verde-oliva?
Terceiro. SE o PMB se constituir em um partido, SE Joaquim Barbosa aceitar a candidatura à presidência, ficará ainda a cargo do povo decidir se o quer ou não para o cargo político máximo da nação. Caberá ao povo votar ou não em Barbosa e seus partidários. Ou estão pensando que, no dia da eleição, haverá  um soldado em cada cabine de votação do país a apontar uma arma para a cabeça do eleitor e a vigiar seu voto? Na verdade, quem aponta, há muito tempo, uma arma para a cabeça do eleitor é o PT, a arma eficientíssima do assistencialismo barato, da esmola social. Ao invés de gerar empregos, o PT dá esmolas, deixa o sujeito dependente dele, amarrado ao cabresto da estrela vermelha. O PT aponta o bolsa-família - e tantas outras bolsas - para as têmporas do eleitor e diz : ou vota em mim, ou volta a passar fome, você e toda a sua filharada. Parece-me haver, sim, uma espécie de ditadura no país, mas não por parte dos militares.
Quarto e último. SE o PMB virar partido, SE Joaquim Barbosa concorrer à presidência por ele, SE o povo lhe der a vitória nas urnas, ele será um presidente legitimado por um processo democrático. Cadê o golpe? E Joaquim Barbosa, presidente da república por qualquer partido que seja, o militar ou não, jamais poderá tomar atitudes autoritárias,  instaurar leis e decretos ditatoriais, jamais poderá assumir o manto de qualquer totalitarismo. Qualquer projeto de lei percorre um longo caminho até a sua aprovação, ele tem que passar pela Câmara e pelo Senado, por votações morosas de todos os seus parlamentares, que envolvem os mais diversos interesses, pessoais, de partidos, de governos. Ou seja, o Presidente Barbosa terá que seguir a lei, obedecer à Constituição, e, nesse aspecto, nada depõe contra ele, muito pelo contrário. Cadê a possibilidade de um golpe?
Caso todos os SEs venham a acontecer, o Brasil não terá um novo governo militar, terá um governo democrático cujo chefe maior da nação é um membro do partido militar. É muito diferente. É difícil de entender isso?
Agora, a pergunta que não quer calar : SE o PMB virar partido, SE Barbosa aceitar o seu convite, o Azarão votaria nele?
Há muito anulo meu voto, quase há 20 anos. Votei em Fernando Collor, em 1990, e assumo a besteira que fiz, também tive minha poupança sequestrada. Se me vale de atenuante, digo que não votei exatamente em Collor, votei contra Lula, então em sua primeira candidatura. Eu já bem sabia o que era Lula. Votei em Fernando Henrique Cardoso, em 1994, e votei em FHC mesmo, não contra o outro candidato, embora, coincidentemente, o outro fosse, de novo, Lula. Depois disso, anulo meu voto em todas as eleições, religiosamente.
Mas SE o PMB virar partido, SE Barbosa aceitar o convite, e SE (e esse é o SE menos provável de todos) eu resolver votar em alguém, sim, a resposta é sim. Eu votaria em Joaquim Barbosa!

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6 Comentários

  1. Tenho um amigo que é filiado ao PT desde antes de entrar na faculdade. O pai dele sofreu tortura na ditadura militar e ele tem um enorme orgulho disso. Nesses dias tensos de manifestações por todo o país, o facebook está em erupção. Esse amigo começou a postar imagens de pichações (em São Paulo, ele mora lá)de suásticas e palavras de cunho facista. Bastou para que ele começasse a chamar todos os manifestantes de facistas. Isso deu início a uma série de discussões que terminaram com brigas e rompimentos de amizades, a tradicional discussão democrática. Ao final conclui que além do PT estar perdido e confuso, esse partido e os outros de "esquerda": PSTU, PCdoB e sei-lá-mais-o-quê estão ressentidos por não poderem participar da festa. Tudo vaidade. E um medo enorme de golpe de estado que só vi comentários saindo do forno do PT.

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    1. O pai, de quem ele tem tanto orgulho, e com razão, fez à época exatamente o mesmo que os manifestantes fazem agora.
      Acontece que, agora, são os defendidos pelo pai dele que estão no poder, aí o antigo liberal se torna o reacionário.
      A esquerda hoje é o lado reacionário, o lado que, como a própria palavra diz, reage à perda do poder, a largar do osso.
      E a palavra é exatamente essa : vaidade.
      Nós conhecemos bem isso, né? Convivemos com esses egos idiotas. Veja os que circulam entre nós, com seus pequenos poderes e suas vãs filosofias.

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  2. Não me aprofundo muito em política, Azarão. Entendo pouco ou quase nada, é verdade. Tanto que acho nunca ter comentado um post político por aqui. Mas do pouco que tenho visto e sei, há tempos não lia uma opinião com tanta sobriedade sobre o assunto.
    Parabéns mais uma vez.

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    1. Eu também não entendo praticamente nada de política, mas, às vezes, arrisco-me a opinar, mais por intuição e por observação que por conhecimento acadêmico do assunto.
      Obrigado mais uma vez.

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  3. É a esquerda que quer acabar com o MP, submeter o STF e censurar a imprensa;E ainda falam de golpe dos militares, da direita... isso é no mínimo risível e preocupante.

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    1. É a esquerda que já deu o golpe e, se aprovado, o PEC 37 será o golpe de misericórida na democracia.

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